sábado, outubro 14, 2006

Poema do desamor

Desmama-te desanca-te desbunda-te
Não se pode morar nos olhos de um gato

Beija embainha grunhe geme
Não se pode morar nos olhos de um gato

Serve-te serve sorve lambe trinca
Não se pode morar nos olhos de um gato

Queixa-te coxa-te desnalga-te desalma-te
Não se pode morar nos olhos de um gato

Arfa arqueja moleja aleija
Não se pode morar nos olhos de um gato

Ferra marca dispara enodoa
Não se pode morar nos olhos de um gato

Faz festa protesta desembesta
Não se pode morar nos olhos de um gato

Arranha arrepanha apanha espanca
Não se pode morar nos olhos de um gato

Alexandre O’Neill [1924 - 1986], in “Dezanove poemas” [1983]

Transcrito da página 524 de
«Poesias Completas, 1951/1983»
2.ª edição revista e aumentada
Colecção “Biblioteca de Autores Portugueses”
Imprensa Nacional . Casa da Moeda [Junho de 1984]

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